Gosto de ouvir pessoas inteligentes.
E irônicas.
É necessário inteligência para fazer ironia.
Quando a pessoa é inteligente, não interessa se é gremista ou colorado.
Guerrinha é inteligente.
Kenny Braga não.
Juremir Machado da Silva é colorado, mas é muito inteligente.
Mandei para ele um email sobre aquele caso do edital da holding do Beira-Rio.
Ele, modestamente, deu espaço para esse singelo blog.
Apesar de colorado, tenho uma paixão maior: o jornalismo.
O jornalismo é uma serpente: só se interessa pela verdade.
Seja qual for.
O clubismo é a doença infantil do torcedor.
A verdade é o horizonte escorregadio do jornalista.
Falei, ontem, por quase uma hora, com um importante conselheiro do
Inter. Não é quem o leitor possa estar pensando. Homem discreto, não
quer holofotes. Prefere ficar observando a sair em guerra no momento.
Resumo, com as minhas palavras, uma das suas preocupações: o
Beiro-Rio de amanhã deverá ter os mesmos problemas da Arena do Grêmio
hoje.
Pergunto se teme isso.
Responde: “Não temo. Tenho certeza de que será assim”.
Peço argumentos.
Ele dá:
– O Inter terá 40 datas por ano para usar o seu estádio reluzindo de
novo. As demais pertencerão a AG. “Quem administrará de fato o estádio?”
– “O filé do estádio, as cadeiras da ala oeste, o lado da sombra,
ficará com a AG. Serão cinco mil cadeiras, camarotes e skyboxs. Em 20
anos, a AG arrecadará em torno de R$ 1 bilhão com isso”.
– “A AG tem preferência para administrar o Gigantinho”.
– “O Inter podia sim ter feito a reforma com recursos próprios.
Gastaria R$ 160 milhões, não precisava de garagem e teria total
autonomia. Não conseguiu isso por duas razões: a mentalidade empreiteira
e a grenalização”.
A mentalidade empreiteira é uma praga que domina o Rio Grande do Sul.
Quando o Beira-Rio foi construído, lembra o conselheiro, Porto Alegre
tinha metade da populacao e o Inter metade dos sócios de hoje. Mesmo
assim, foi possível construir um gigante, algo espetacular para a época,
equivalente do esforço atual, ou mais, para a renovação de hoje.
A mentalidade empreiteira é uma atrofia cerebral que engessa o pensamento livre e gera o pensamento único do universo esportivo.
O governo federal empurrou o Inter para a AG. Mas isso só se
concretizou por causa da grenalização, quando a rivalidade é burra: “O
Inter ficou com tanto medo de perder a Copa para o Grêmio que não se
atreveu a esperar a melhor solução. O Grêmio, na esperança de tomar a
Copa do Inter ou de, ao menos, ter a Copa das Confederações, correu para
a OAS”.
Havia outra possibilidade? “Sim, a que foi explorada pelo
Atlético-PR. A aprovação de uma lei estadual fixando o Estado como
avalista do empréstimo junto ao BNDES”. Para isso, era preciso calma,
estratégia política, firmeza e não viver acossado pelo medo de perder o
quinhão para o vizinho.
Como Inter e Grêmio sucumbiram à mentalidade empreiteira, empurrados
por seus fantasmas e pelo corpo mole do RS e da União, a mídia passa a
suspeitar de todo aquele que pensa diferente. Esse é visto como louco,
irresponsável ou defensor de interesses subalternos. Se o Inter não
morresse de medo de perder a Copa para o Grêmio, teria empurrado a
questão para os políticos, que, com medo de não ter Copa no Rio Grande
do Sul, aprovariam lei permitindo que o Estado fosse fiador junto ao
BNDES. Tudo o que se disse impossível para o Rio Grande do Sul, como uma
ameaça, foi feito pelo e para o Paraná.
Conclusão: o Grêmio fez um contrato terrível para si na esperança de
engolir o Inter na Copa. O Inter fez um contrato um pouco melhor que o
do Grêmio, mas inferior ao que poderia ter obtido, por medo de perder a
Copa para o Grêmio. A mentalidade empreiteira e a rivalidade burra
atolaram os dois.
Se a turma de Vitório Piffero é suspeita de ter querido fazer uma
reforma caseira para atender a interesses de parceiros domésticos, a
direção atual mantém na gaveta um contrato secreto. O que ele esconde?
Só se saberá quando o contrato vazar.
Isso sempre acontece.
O gremista Demian Diniz da Costa, no seu blog, espalha outros
venenos. Muito provavelmente por clubismo. Mas e se houver alguma
verdade no que diz? E se o Inter estiver, com seu estádio, ajudando a
avalizar os empréstimos que não podia pedir sozinho? Seria kafkiano. Não
tiro conclusões. Compartilho. A verdade, no jornalismo, muitas vezes
vem de quem quer ferir.
Diz Demian a respeito de edital publicado na imprensa: “Não li uma
linha sobre isso nas colunas dos comentaristas vigilantes. Não ouvi uma
palavra qualquer sobre o caso. Em amarelo, marquei alguns pontos
principais:
- A holding está autorizada a buscar no BNDES, Banco do Brasil e Banrisul um empréstimo de R$275.000.000,00.
- Autorizou a assinatura, sem limitação de “todas e quaisquer garantias, fianças e avais” para o empréstimo.
- Como garantia, a holding está autorizada a ceder direitos de uso do
estádio, que foram firmados no contrato original da AG com o Inter.
Não diz quais direitos de uso. Mas para pagar esse empréstimo, não deve
ser pouca coisa. Está no contrato da AG, mas esse ainda não vazou na
mídia amiga.
Ou seja, fizeram um empréstimo. A garantia é o Beira-Rio.
O edital fala também da autorização de uma alienação fiduciária de um
imóvel de matrícula n° 6.258, da Quinta Zona de Registro de Porto
Alegre.
Mas aí não sei que imóvel é esse.
Será o Beira-Rio? O Parque Gigante
Imaginem a gritaria da imprensa se a OAS fizesse algo assim.
Fizesse um empréstimo, tendo o Olímpico como garantia.
Mas a AG pode.
Clique duas vezes em cima da imagem que ela amplia.”