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Beira-Rio que a presidente inaugura hoje precisa ser visto como vitória
da negociação e de uma vontade política que pode ser estendida também a
outras áreas.
A presença da presidente Dilma Rousseff em Porto Alegre para a
inauguração informal da reforma do Beira-Rio hoje pela manhã está
cercada de simbologia. Foi a presidente da República _ como gaúcha
adotiva e torcedora do Internacional _ que viabilizou o complicado
contrato entre o clube e a construtora Andrade Gutierrez, assegurando as
condições para que Porto Alegre fosse oficialmente confirmada e mantida
como uma das sedes da Copa. Entre as cerimônias de entrega das 12
arenas a serem usadas no Mundial do Brasil, a de hoje tem um significado
especial pelo fato de as obras serem uma das poucas realizadas sem
dinheiro público. O único ponto em aberto é o agora questionado custo
das estruturas temporárias, que não pode recair totalmente sobre os
contribuintes, e, por isso, desafia a capacidade de negociação de
dirigentes políticos e esportivos.
São conhecidas as dificuldades enfrentadas para levar adiante um
compromisso assumido há sete anos, quando a Fifa confirmou o Brasil como
sede da Copa e o Estádio Beira-Rio se credenciou como praça para jogos
do evento. Desde então, muita água rolou por baixo da ponte do Guaíba, e
o país chegou às vésperas do Mundial com uma forte resistência popular
aos gastos públicos com obras de infraestrutura, especialmente de
mobilidade, e com a construção ou reforma de estádios. As restrições,
associadas às dificuldades de bancar as obras, levaram Porto Alegre, em
2011, a enfrentar o constrangimento de ser descredenciada pela Fifa como
subsede da Copa das Confederações, reforçando, na época, os temores de
prejuízos no Mundial. Mesmo tendo sido viabilizada sob a forma de
parceria com uma empresa privada, a renovação do Beira-Rio é resultado
direto de negociação política.
É político também o contexto em que a presidente da República inaugura
hoje tanto o novo estádio quanto a Festa da Uva em Caxias do Sul. Mas
esse clima é indissociável de um ano de disputas eleitorais, em que
aliados do governo e representantes da oposição tratam de explorar essas
situações como melhor lhes convêm. À sociedade, resta cobrar o máximo
de transparência em todos os atos de governo. É a forma de garantir mais
claramente se há interesses eleitoreiros em jogo ou eventuais prejuízos
a áreas essenciais, que dependem integralmente de verbas oficiais.
As consequências da escolha do Brasil como sede do Mundial tiveram um
efeito didático ao desafiarem a capacidade do país de empreender em
prazos definidos, ao reforçar a conscientização dos brasileiros,
levando-os às ruas, e a deixar mais evidentes suas pretensões de um
“padrão Fifa” para serviços essenciais. O Beira-Rio que a presidente da
República inaugura hoje precisa ser visto como vitória da negociação, da
persistência e de uma vontade política que pode ser estendida também a
outras áreas.